Em entrevista tivemos com Tiago do Carmo, estudante do primeiro ano do curso de Comunicação Social da Escola Superior de Coimbra. Que nos deu um retrato em primeira pessoa daquilo que é ser um trabalhador-estudante.
Repórter: Sabemos que trabalhas enquanto estudas. Tens o estatuto de trabalhador estudante?
Tiago do Carmo: Tenho. Entreguei, no início do ano, na escola, um documento assinado pela entidade patronal, a comprovar que tenho um emprego.
R.: E que regalias te dá esse tipo de estatuto?
T.C.: Na escola, as faltas são justificadas, tenho direito a uma época especial para exames e, por exemplo, no primeiro semestre, na disciplina de Françês, não assistindo a 70% das aulas era obrigado a ir a exame oral, e com o estatuto trabalhador-estudante não tive de ir. No trabalho, onde tive de entregar o comprovativo de matrícula, tenho direito ao dia anterior e ao dia do exame, ou qualquer prova de avaliação, entregando o comprovativo da escola assinado pelo professor.
R.: Depois de entregues os documentos, foi fácil a obtenção do estatuto?
T.C.: Sim. entreguei a documentação que me foi solicitada pela escola e não tive qualquer problema.
R.: O facto de teres emprego prejudica-te na assiduidade escolar ou na realização de trabalhos?
T.C.: A nível de assiduidade escolar, prejudica um pouco, uma vez que o meu horário é das 13h às 22h e tenho aulas que terminam às 13h20. No entanto, o facto do primeiro ano ter apenas aulas da parte da manhã, ajudou-me nesse sentido.
A nível da realização de trabalhos, prejudica-me bastante. O facto de estar ocupado com aulas da parte da manhã e com trabalho até as 22h, não me permite reunir com os meus colegas de grupo e também tenho muito pouco tempo para fazer a minha parte do trabalho. O meu dia devia ter no mínimo 30 horas... (risos)
R: Já tiveste de desistir de alguma disciplina por esse motivo?
T.C.: Desistir não desisto, porque tenho sempre a opção de fazer a disciplina por exame. Mas, aquando da escolha do modo de avaliação, esse é um factor importante. Por exemplo, neste semestre decidi colocar 2 disciplinas em avaliação por exame, e o facto de ter pouco tempo para fazer trabalhos vai obrigar-me a fazer disciplinas por exame que queria fazer por avaliação contínua.
R.: Sentes-te incentivado a continuar a trabalhar enquanto estudas?
T.C.: Como trabalho há 6 anos, já não conseguia ficar sem trabalhar, e o facto de gostar daquilo que faço, faz-me sentir motivado. No entanto, já pensei reduzir o horário para part-time no intuito de ficar com mais tempo livre para os trabalhos, mas a diferença de salário é grande...
R.: Já pensaste em deixar de estudar por causa do trabalho?
T.C.: Não. Ingressar no ensino superior era o que eu devia ter feito antes de começar a trabalhar. Talvez por ter entrado já com 26 anos, vejo as coisas de maneira diferente. Não tenho o espírito do "o curso não é para fazer, é para se ir fazendo…", quero acabar o curso o mais rápido possível. Porque se é difícil arranjar emprego estável e com um bom salário com uma licenciatura, mais difícil é com o 12º ano...
R.: Só posso concordar contigo. Resta-me desejar-te uma boa continuação de curso e sorte no trabalho.
T.C.: Obrigado.